a europa-zona euro tem um problema: não cresce ( será isto que a nato quer ? )

Em 2023 a zona euro foi a região com o crescimento do PIB mais baixo do mundo
– Será também culpa de Putin?

Juan Torres López [*]

Perdas da UE com o gás em 2023.

Medir o sucesso de uma economia pelo crescimento do PIB é muito inadequado. É tão inadequado, por exemplo, como avaliar o desenvolvimento de um bebé apenas com base no aumento de peso. No entanto, como este é o indicador utilizado pelos economistas convencionais, estou a tomá-lo em consideração para comparar a situação da economia europeia com as outras maiores economias do mundo em 2023.

No final desse ano, seis economias da União Europeia (Dinamarca, Estónia, Finlândia, Alemanha, Irlanda, Luxemburgo e Estónia) estavam em recessão (mais de dois trimestres consecutivos de crescimento negativo do PIB), bem como as do Japão, Moldávia, Peru e Reino Unido. A zona euro e a União Europeia no seu conjunto aproximaram-se em algumas décimas de ponto percentual (se as sucessivas revisões dos dados não os corrigirem em baixa). Os Estados Unidos registaram um crescimento de 2,5%. E, ao contrário de todos eles, o crescimento do PIB dos grandes países que podem ser considerados fora da área de influência desta última potência mundial foi superior:   China 5,2%; Índia 7,6%; Rússia 3,6%; Brasil, 2,9%.

É muito significativo que a atividade económica esteja a crescer mais nestas últimas economias, que não são geridas de acordo com os mesmos parâmetros de política económica que inspiram as grandes economias ocidentais. Mas aqui referir-me-ei apenas às diferenças entre o que se passou na Europa e nos Estados Unidos.

De acordo com quase todos os analistas, pode dizer-se que estes últimos não entraram em recessão (contrariamente à maioria das previsões) por várias razões:

  • Um bom número de greves que conseguiram aumentar os salários reais e o poder de compra, uma certa flexibilização da política monetária após a crise bancária do ano passado e a forte dependência das poupanças das famílias impulsionaram o consumo das famílias como motor do crescimento do PIB.
  • Em vez de cortes, as compras da administração pública estatal e local também aumentaram.
  • O investimento privado na indústria transformadora foi o mais elevado desde 1958, graças aos incentivos e à proteção dos interesses nacionais criados pela Lei de Redução da Inflação de 2022.
  • Os Estados Unidos aproveitaram a guerra na Ucrânia para sabotar o abastecimento energético da Europa e, em particular, da Alemanha, conseguindo assim um aumento considerável das suas exportações de petróleo bruto. E também para impulsionar ainda mais a sua indústria e despesas militares, o que fez aumentar as despesas públicas e privadas.

Comparativamente, é fácil deduzir as razões que estão a provocar a recessão ou a limitar o crescimento noutras grandes economias europeias e, em particular, na Alemanha.

  • As políticas de reforço da procura interna continuam a ser limitadas, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos. Os salários reais crescem menos ou diminuem, políticas como as de Biden para proteger e incentivar os recursos estratégicos e as indústrias nacionais não foram postas em prática, o que impossibilita o aumento do investimento privado numa altura em que a globalização entra em crise. E a despesa e o investimento públicos estão sempre sujeitos a restrições.
  • As sanções contra a Rússia foram um tiro no pé, sobretudo para a economia alemã, e uma fonte de desindustrialização acelerada e de perda de competitividade para toda a Europa.

Como escreveu Thomas Palley, os Estados Unidos “piratearam” a Europa. Parece ter pirateado o disco rígido mental dos dirigentes europeus para que as suas decisões políticas, defensivas e estratégicas respondam não aos interesses dos seus cidadãos, mas aos interesses americanos, e as economias dos diferentes países e da União Europeia no seu conjunto estão a pagar o preço disso.

Se acrescentarmos a isto a política monetária do Banco Central Europeu, que está a fazer grandes estragos nos bolsos das famílias com o único objetivo de beneficiar os bancos, temos a razão da nossa situação económica comparativa:   de acordo com dados recentes do Banco Mundial, entre as grandes regiões em que divide o mundo, a zona euro foi a que registou a taxa de crescimento económico mais baixa em 2023. Não sei se é incompetência, insensatez ou venalidade, mas os líderes da União Europeia deviam olhar para o que estão a fazer; e os cidadãos deviam ter isto em mente nas próximas eleições de junho.

04/Março/2024

[*] Professor da Faculdade de C. Económicas da Universidade de Sevilha.

O original encontra-se em juantorreslopez.com/la-eurozona-es-la-region-del-mundo-con-menor-crecimiento-del-pib-en-2023-tambien-es-culpa-de-putin/

Este artigo encontra-se em resistir.info

como o pib é um conceito manhoso e nada científico ( o caso da índia e dos países dos trópicos )

O que esconde o PIB

Prabhat Patnaik [*]

PIB, cartoon de Satish Acharya.

Há problemas bem conhecidos associados ao conceito de produto interno bruto, bem como à sua medição. A inclusão do sector dos serviços no PIB [NR] é algo a que Adam Smith se teria oposto com base na ideia de que as pessoas empregadas neste sector constituíam “trabalhadores improdutivos”. Logicamente, na antiga União Soviética e nos países socialistas da Europa de Leste, não era o PIB e sim o produto material bruto, excluindo o sector dos serviços, era considerado a medida relevante.

Mesmo que o sector dos serviços seja incluído no PIB, há um problema conceptual associado à medição da sua produção, uma vez que o que constitui a prestação de um serviço é difícil de distinguir do que constitui um mero pagamento de transferências:   afinal, uma pessoa pode ter satisfação em fazer um pagamento de transferências exatamente como tem satisfação com a atuação de um músico. Como então podemos incluir um e não o outro no âmbito do PIB? Mas, para além destes problemas conceptuais, há também problemas associados à medição do PIB, problemas que decorrem, entre outros, devido ao vasto sector da pequena produção, para o qual não dispomos de dados fiáveis, regulares e atempados. Na Índia, por exemplo, vários economistas sugeriram, embora por razões diferentes, que a medição da taxa de crescimento do PIB é sobreavaliada.

Também é óbvio que o PIB não é um índice de bem-estar nacional; a razão mais saliente para este facto é que a distribuição do PIB pode ser extremamente desigual. Mas o funcionamento do imperialismo cria um tipo particular de dicotomia dentro de um país do terceiro mundo que torna o PIB totalmente inadequado para medir o progresso económico. Na verdade, o PIB serve para camuflar esta dicotomia que até tem tendência a aumentar ao longo do tempo.

O imperialismo tem dois efeitos distintos numa economia contemporânea do terceiro mundo. Uma vez que tal economia está tipicamente localizada nos trópicos, os países industriais exigem dela uma gama de produtos agrícolas (para além dos minerais) que só a massa terrestre tropical é capaz de produzir, ou de produzir durante o período em que as regiões temperadas frias do mundo, que constituem a base do capitalismo, estão congeladas. Assim, para além do trigo e do milho, o imperialismo necessita de toda uma série de produtos primários do terceiro mundo, que ele próprio não pode produzir em nenhuma estação do ano, ou que só pode produzir na sua estação quente mas não no seu inverno. Estes produtos têm de ser importados; mas a extensão da massa terrestre tropical é limitada e, uma vez que as práticas de expansão da fronteira agrícola (“land-augmenting”), como a irrigação e outras mudanças técnicas que elevem a produtividade da terra, requerem tipicamente um Estado ativista, e o capitalismo opõe-se a toda espécie de ativismo estatal que apoie e promova não a si próprio mas sim a agricultura camponesa, esta “expansão da terra” não está disponível num grau adequado. Os fornecimentos necessários de produtos tropicais para as necessidades das metrópoles são forçados exportados rumo às metrópoles, reduzindo assim a sua absorção interna no terceiro mundo. Portanto, o imperialismo impõe necessariamente ao terceiro mundo uma compressão dos rendimentos, o que implica uma compressão da procura.

Uma das principais funções do regime neoliberal é abrir o terceiro mundo à exportação sem restrições de tais commodities e, para o conseguir, impor a compressão da procura como algo rotineiro. Esta abertura exige que a escolha das culturas pelos camponeses não seja influenciada por considerações de auto-suficiência alimentar nacional ou por necessidades locais, mas exclusivamente pelo “mercado”, o que significa o poder de compra das metrópoles. Para assegurar isto, nos países do Sul todo governo deve suprimir sobretudo apoios aos preços dos cereais alimentares, assim como à armazenagem de culturas alimentares para sustentar o sistema de distribuição pública, além de alinhar os preços internos aos preços internacionais através da eliminação de todas as restrições comerciais quantitativas e da imposição de tarifas nulas ou mínimas. É exatamente isto que a Organização Mundial do Comércio procura assegurar. Simultaneamente, os países industrializados continuam a conceder subsídios diretos muito elevados aos seus próprios produtores agrícolas de cereais e de algodão, etiquetando-os como “não comercialmente distorcivos”.

Se houver oferta insuficiente das culturas que a metrópole pretende importar, verifica-se então a inflação. Para contê-la exige-se habitualmente medidas de compressão da procura as quais restringem necessariamente a procura interna e conduzem a uma maior oferta para a metrópole. O efeito global do regime neoliberal, através de todos estes mecanismos, é reduzir a disponibilidade líquida de cereais per capita no terceiro mundo e fazer com que as terras cultivem, ao invés, produtos que são procurados pela metrópole. É exatamente isto o que observamos.

Há um segundo impacto do imperialismo sobre os países do terceiro mundo. Este decorre do facto de a desindustrialização colonial ter deixado estes países com enormes reservas de mão-de-obra que mantêm os salários reais num nível de subsistência, apesar de os salários reais nas metrópoles continuarem a aumentar mais ou menos acoplados à produtividade do trabalho. Devido a esta ampliação do fosso entre os salários das duas regiões, as corporações multinacionais das metrópoles estão agora dispostas a instalar fábricas no terceiro mundo para atender não o mercado local mas sim o mercado mundial. Esta relocalização de actividades das metrópoles para o terceiro mundo, em especial de actividades “de baixo nível” ou menos intensivas em qualificações, não é numa escala que absorva as reservas de trabalho, de modo a que o rebaixamento dos salários reais continua, exacerbado pela compressão dos rendimentos já mencionada; mas torna-se uma fonte de crescimento urbano, incluindo o que, no contexto do terceiro mundo, constitui emprego de rendimento médio.

Estes dois efeitos do imperialismo criam entre si uma estrutura dualista no terceiro mundo. O colonialismo, que criou no Terceiro Mundo “enclaves” onde opera o capital estrangeiro, de certo modo, deu origem a essa estrutura dualista. O Estado pós-colonial no Terceiro Mundo, que emergiu com base numa luta anti-colonial, havia-se empenhado em ultrapassar este dualismo – mas a substituição do regime dirigista pelo neoliberalismo recriou esta tendência em direção o dualismo no Terceiro Mundo, com o fosso entre os dois lados a aprofundar-se ao longo do tempo.

É certo que o fosso entre os trabalhadores do segmento “moderno” em crescimento do terceiro mundo e a sua contrapartida do segmento estagnado ou em declínio, como a agricultura camponesa e a pequena produção, não aumenta. Ambos os conjuntos de trabalhadores são vítimas tanto das reservas maciças e crescentes de trabalho que mantêm baixa a taxa de salário real, como da compressão da procura imposta para extorquir as necessidades da metrópole a partir da massa de terra tropical sem gerar uma inflação significativa. Mas o fosso entre a grande burguesia local e os profissionais de rendimento médio alto que se dedicam ao segmento “moderno”, por um lado, e os trabalhadores que se dedicam tanto aos segmentos moderno como ao tradicional, por outro, aumenta nitidamente; e isto tem também uma dimensão espacial, que se exprime mais claramente numa dicotomia rural-urbana.

Esta crescente dicotomia rural-urbana é claramente visível nos próprios dados oficiais indianos. Se considerarmos a magnitude da pobreza nutricional, definida como o acesso a menos de 2100 calorias por pessoa por dia na Índia urbana e menos de 2200 calorias na Índia rural, então a proporção da população urbana abaixo desta norma aumentou de 57% em 1993-94 para cerca de 60% em 2017-18. Na Índia rural, pelo contrário, esta proporção aumentou de 58% para mais de 80% durante o mesmo período. (Os dados do Inquérito Nacional por Amostragem, a partir dos quais estes cálculos são efectuados por Utsa Patnaik num livro a publicar em breve, foram entretanto retirados pelo Governo da Índia devido ao que eles mostram). De facto, sob o governo da NDA, que tem seguido uma política neoliberal agressiva e desavergonhada, esta dicotomia aumentou consideravelmente.

Perante uma dicotomia tão drástica e acentuada entre dois segmentos da economia, a utilização de uma medida única como o PIB serve como um dispositivo de camuflagem. Não é apenas o facto de a crescente desigualdade de rendimentos tornar o PIB uma medida inadequada do bem-estar económico, uma proposição que é facilmente aceite; mas o facto de esta crescente desigualdade ter uma dimensão espacial, recriando uma estrutura económica dualista, sob a ascendência do neoliberalismo que representa uma reafirmação do imperialismo. A utilização do PIB serve, portanto, para esconder esta crescente dicotomia estrutural que o imperialismo introduz. Serve, em suma, para camuflar o funcionamento do imperialismo.

Mas isso não é tudo. Todas as estimativas preliminares do PIB na Índia são feitas com base nos dados do sector de grande escala e a taxa de crescimento do sector de grande escala é atribuída em muitos casos ao sector de pequena escala como um passo “provisório”. Mas isto implica partir do princípio de que o sector em declínio está a crescer tão rapidamente como o seu homólogo, o que é uma caricatura chocante da verdade.

04/Fevereiro/2024

[NR] A União Europeia requer que a Contabilidade Nacional dos países membros incluam também os serviços de prostituição.   Ver ECB: Estimation of Prostitution Services in Europe in the Context of the External Accounts.

[*] Economista, indiano, ver Wikipedia

O original encontra-se em peoplesdemocracy.in/2024/0204_pd/what-gdp-hides . Tradução de JF.

Este artigo encontra-se em resistir.info

afinal os imigrantes dão lucro !!!

Perceberam os que clamam contra a invasão de estrangeiros migrantes ? Perceberam ? É que os países velhos precisam disto. Embora os descontos para a segurança social só poderem ser chamados de lucros por um imbecil o certo é que para existirem exigem gente A TRABALHAR e a fazer os descontos que são parte da receita da segurança social. Tão simples como isto. Sem pessoas não há países e na europa a população nativa decresce porque os nascimentos são menos que os óbitos. Mas… chegam os imigrantes e.

Os sionistas são assassinos por génese. Dizem ter um deus que aceita tudo desde que feito por judeus e é ele mesmo uma ideia de brutalidade, desrespeito pela vida e exaltação do dinheiro. As mortes já chegaram aos católicos , os cristãos que perseguiram os judeus até hitler que exterminou centenas de milhares deles, desde que pobres e sem capacidade de suborno. Mas o sionismo é anterior ao nazismo e agora competem ao nível de crimes contra a humanidade. As voltas do mundo, dos negócios e do poder.

Antes ou depois ?

Bruxo ou analista ?

oxisdaquestão, 18.12.2023

os brics e a sua expansão

Por trás da expansão dos BRICS

Prabhat Patnaik [*]

PIBs dos BRICS .

Na cimeira de Joanesburgo dos países BRICS, foi decidido expandir o grupo para além dos seus cinco iniciais, nomeadamente Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a fim de incluir mais seis países. São eles: Argentina, Egito, Irão, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Ao que parece, estes seis novos países foram escolhidos a partir de uma lista de vinte e dois que estavam ansiosos por juntar-se ao grupo BRICS. Além disso, fontes governamentais da África do Sul, a qual preside atualmente o BRICS, revelaram que até 40 países estavam interessados em aderir ao grupo. Surge naturalmente a questão:   porque subitamente o BRICS se tornou tão popular?

Muitos viram os BRICS como uma tentativa de alguns grandes países, excluídos da “mesa alta” dos países imperialistas, de se afirmarem e de desempenharem um papel mais significativo nos assuntos mundiais, um papel de acordo com o que pensam merecer. Mas os BRICS são um grupo muito heterogéneo:   A Rússia e a China são, de qualquer modo, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas com poder de veto, estando um deles atualmente em guerra com os países da “mesa alta” e o outro a ser vilipendiado como o seu “inimigo principal”; por isso, a questão de se sentirem “excluídos” simplesmente não se coloca. E quanto aos restantes membros, o BRICS, enquanto organismo, não desempenhou qualquer papel fundamental em qualquer situação mundial desde a sua formação. Assim, estes membros restantes também não podem ser vistos como meros aspirantes a um papel mais importante nos assuntos mundiais (pois, se o fossem, teriam sido mais pró-activos). Do mesmo modo, a mera aquisição de maior importância não pode ser o motivo que leva tantos países a quererem aderir ao BRICS.

Além disso, o problema desta explicação é que ela ignora a economia política subjacente à atual situação mundial, marcada por uma crise económica do capitalismo mundial, uma crise que até os economistas conservadores e do establishment chamam de “estagnação secular”.

Nesta situação de crise, as velhas instituições internacionais parecem singularmente inadequadas, e os países imperialistas parecem absolutamente incapazes de as modificar, ou de as alterar, ou de fazer novas inovações institucionais, a fim de enfrentar a situação. Os BRICS surgem neste contexto como uma inovação prometedora. A popularidade dos BRICS, por outras palavras, é uma manifestação da crise, uma expressão da falta de confiança no arranjo imperial até agora existente, para lidar com a crise. Isto não faz dos BRICS um agrupamento “anti-imperialista”: alguns países que o integram são, sem dúvida, anti-imperialistas, mas não se pode dizer que países como o Egito, a Etiópia, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos se estejam a revoltar contra o imperialismo ao aderirem ao BRICS. Embora não sejam anti-imperialistas, estão a olhar para um arranjo alternativo de promessas que pensam poder dar-lhes um apoio crucial nos tempos que se seguem.

No BRICS ampliado agora existente há três tipos distintos de países (que não se excluem mutuamente):   países contra os quais o imperialismo impôs “sanções” unilaterais ou medidas protecionistas punitivas;   países produtores de petróleo e de gás natural; e   países que já estão a passar por dificuldades no meio da atual crise mundial ou que provavelmente as terão nos próximos tempos.  A China, a Rússia e o Irão exemplificam a primeira categoria;   a Rússia, o Irão, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos exemplificam a segunda; e   o Egito, a Etiópia e a Argentina a terceira (com o Brasil e a Índia preocupados com o desenrolar da crise e interessados em acordos alternativos).

Para os países que estão sujeitos a sanções imperialistas unilaterais que são impostas mesmo sem qualquer autorização do Conselho de Segurança, o BRICS oferece um arranjo potencial para contornar essas sanções. Nesse sentido, a inclusão do Irão no BRICS é talvez mais significativa do que qualquer outra medida adotada na Cimeira de Joanesburgo. O Irão não só tem sido sujeito a severas sanções, como foi o primeiro país a ser excluído do acesso às suas próprias reservas de divisas mantidas em bancos metropolitanos, o que constituiu uma clara violação das regras do jogo capitalista concebidas pelos próprios países imperialistas. Desde então, estes atos de “banditismo” internacional tornaram-se bastante comuns, sendo a Rússia a mais recente vítima, na sequência da guerra da Ucrânia: também ela não foi autorizada a aceder às suas próprias reservas cambiais detidas em bancos estrangeiros. A adesão aos BRICS permite a estes países “sancionados” sair da marginalidade em que o imperialismo os quer aprisionar.

Os produtores de petróleo e de gás natural estão a ver os preços dos seus produtos a cair devido à recessão mundial e têm tentado manter esses preços reduzindo a produção em resposta à redução da procura. Isto é contra a vontade explícita dos Estados Unidos. De facto, numa ocasião, os Estados Unidos enviaram vários emissários, incluindo até o próprio Biden, à Arábia Saudita a fim de pedir a este país que se opusesse a um corte na produção na reunião da OPEP+ que se realizaria na altura; mas esta pressão dos Estados Unidos não funcionou. Desde então, houve mais ocasiões em que a OPEP+ anunciou cortes na produção. Para que, no futuro, os produtores de petróleo tenham autonomia suficiente para decidir sobre a produção de petróleo, desafiando a vontade dos Estados Unidos, parece essencial uma diversificação das suas relações, afastando-se da dependência exclusiva dos Estados Unidos, sem se tornarem necessariamente antagónicos em relação a este país. Para eles, a adesão aos BRICS é um meio para essa diversificação.

Para o terceiro grupo de países, ou seja, o Egito, a Argentina e a Etiópia, que têm economias gravemente debilitadas, e o Brasil, a Índia e a África do Sul, cujas economias, embora também debilitadas, estão menos gravemente afetadas, a atração dos BRICS reside noutro ponto, nomeadamente na possibilidade de comércio em moeda local que contorne o dólar. O Brasil e a China celebraram recentemente um acordo de comércio em moeda local, tal como a Índia e os Emirados Árabes Unidos; e é provável que venham a ser celebrados mais acordos deste tipo entre os membros dos BRICS nos próximos dias, o que constitui um grande atrativo para aderir aos BRICS.

Os valores relativos das moedas dos países que celebram tais acordos são fixos e o dólar não é necessário nem como unidade de conta nem como meio de circulação no comércio entre eles. Estes acordos, ao ampliarem efetivamente a disponibilidade do meio circulante entre estes países e ao tornarem essa ampliação o resultado de decisões tomadas pelos próprios países (que podem aumentar a sua oferta de moeda à vontade), facilitam o comércio entre eles, que deixa de estar condicionado por uma eventual escassez de dólares.

No entanto, isto só responde à metade do problema. O que é necessário, além disso, é que a balança comercial entre esses países seja resolvida pelo facto de o país excedentário comprar bens e serviços ao país deficitário, se não imediatamente, pelo menos durante um certo período de tempo. Por outras palavras, o comércio em moeda local aumenta o stock de liquidez na economia mundial, mas não resolve o problema da dívida externa resultante do comércio entre os países que celebram um acordo deste tipo.

Quando os BRICS encorajarem este tipo de acordos comerciais bilaterais, em que os saldos também são resolvidos não através de um aumento da dívida do país deficitário, mas através da compra de mais bens a esse país, terão dado um contributo significativo para melhorar o funcionamento da economia mundial. Seriam então uma verdadeira alternativa à ordem económica mundial dominada pelo imperialismo.

A nova diretora do Banco dos BRICS, Dilma Rousseff, antiga presidente do Brasil, deixou claro que o banco não tem qualquer intenção de conceder empréstimos para a liquidação ou o serviço da dívida, nem ao terceiro mundo em geral nem aos países membros; não reduziria, portanto, a necessidade de o terceiro mundo recorrer ao FMI para esse efeito e de sofrer a “austeridade” por ele imposta. Mas ela está interessada em expandir o comércio em moeda local e também em conceder empréstimos para infraestruturas aos países do terceiro mundo, o que contribuiria de alguma forma para afrouxar o controlo das instituições dominadas pelo imperialismo.

Tem havido muita discussão entre os círculos de esquerda dos países membros sobre o que significa exatamente o BRICS para o imperialismo. Alguns argumentam que, embora seja anti-imperialista, não é anti-capitalista; mas mesmo chamar-lhe anti-imperialista é um exagero grosseiro. Um grupo com líderes como Modi, MBS (da Arábia Saudita) e Sisi (do Egito) não pode ser chamado de anti-imperialista. O que faz, no entanto, é enfraquecer, pelo menos em certa medida, o domínio monopolista das instituições imperialistas sobre a economia mundial – e isso é certamente um desenvolvimento positivo. Não constitui, por si só, um golpe contra o imperialismo, mas cria um cenário mais favorável para que os trabalhadores de todo o mundo possam desferir um golpe contra o imperialismo.

03/Setembro/2023

[*] Economista, indiano, ver Wikipedia

O original encontra-se em peoplesdemocracy.in/2023/0903_pd/behind-brics-expansion.

Este artigo encontra-se em resistir.info

os brics são uma nova e esperançosa realidade para o mundo

BRICS: Mais 40 tijolos para o muro

– Para já, após a conferência de Joanesburgo, são mais seis

Dmitry Orlov [*]

Novos BRICS.

A conferência dos BRICS atualmente em curso em Joanesburgo já produziu algumas revelações surpreendentes. Uma delas é que a percentagem de comércio entre os membros atuais do BRICS utilizando o dólar americano caiu para menos de um terço; a outra é que nada menos que 40 países estão em algum estágio de adesão ao BRICS.

Trata-se, evidentemente, de desenvolvimentos muito positivos, mas ainda há muito trabalho pela frente. Na agenda está a tarefa de substituir o dólar americano como parâmetro que todos usam para precificar commodities, e outros produtos, escolhendo alguma unidade nocional neutra que não seja afetada pelas taxas de câmbio, que estão sujeitas à manipulação política: quando um país faz algo que os habitantes de Washington não gostam, a sua moeda cai imediatamente. Os preços dos produtos cotados na nova unidade nocional estariam sujeitos à oferta, à procura, ao conteúdo energético e laboral e a outras considerações do mundo real, e não aos caprichos dos especuladores monetários.

Outra característica fundamental da unidade nocional que a diferencia do dólar americano é que ela não pode ser emprestada. É simplesmente um mecanismo de preços. Outra ainda é que não existem taxas de câmbio entre ele e as moedas nacionais que os especuladores possam manipular – uma vez que não há nada para trocar – e cada país é livre para precificar a sua moeda nacional em unidades nocionais como desejar, com o objetivo de manter uma balança comercial valor zero. Obviamente, qualquer saldo comercial que se desenvolva, seja ele positivo ou negativo, terá de ser coberto por uma troca de ouro ou, quando a situação exigir consideração especial, ser adiado ou perdoado.

Grande parte da discussão na imprensa ocidental nem sequer aborda esses assuntos, concentrando-se antes na questão da
   Qual será a nova moeda de reserva?
Isto, é claro, levanta a questão,
   Por que deveria haver uma moeda de reserva?
que também é ignorada. Mais de cinco séculos de imperialismo ocidental ensinaram as pessoas no Ocidente a pensar que tem de haver um chefe: se não for a Espanha, então é a Grã-Bretanha e se não for a Grã-Bretanha, então serão os EUA. Naturalmente, pensam que o novo líder será a China, ignorando o fato que a China não tem interesse em assumir qualquer tipo de papel imperial. Mas se os países se tratam como iguais (como tanto os atuais como os futuros membros do BRICS gostariam muito de fazer), então não há razão para um país manter grandes quantidades de moeda de outro país em reserva, especialmente quando tais reservas
   1. são sustentadas por uma montanha de dívida federal dos EUA que não têm planos de pagar e
   2. podem ser confiscadas a qualquer momento sem aviso prévio se um país não seguir os ditames de Washington.

Mas a questão mais importante é esta: com os BRICS representando em breve a maior parte da economia, da capacidade produtiva e dos recursos físicos do planeta, onde é que isso deixará o Ocidente? Os EUA e a UE têm défices comerciais que somam cerca de um mil milhões de dólares por ano. Até ao momento, este défice foi encoberto pela dívida soberana, forçando os parceiros comerciais a comprar instrumentos de dívida emitidos pelos EUA e pela UE. Mas como o dólar americano (e o seu primo pobre, o euro) já não é necessário para o comércio internacional, como é que esse défice comercial será financiado? Na ausência de um comércio externo financiado pela dívida, tanto os EUA como a UE, juntamente com os seus estados e países constituintes, entrariam rapidamente em colapso economico e político.

Isto acabará por acontecer, mas a curto prazo a tarefa que cabe aos BRICS é organizar uma transição suave para um ponto em que tanto os EUA como a UE se tenham tornado demasiado fracos para causar danos significativos. Talvez esse seja o principal tema de discussão na próxima cúpula dos BRICS, a realizar na bela e moderna cidade de Kazan, República do Tartaristão, Federação Russa, em Outubro do próximo ano. Por enquanto, a organização está ocupada com a definição da nova unidade nocional para substituir o dólar americano como parâmetro e com a aceitação de novos membros.

22/Agosto/2023

[*] Escritor

O original encontra-se em boosty.to/cluborlov/posts/dca26585-3519-4cf0-b42b-58cc9ef48712?from=email e a tradução em sakerlatam.org/mais-40-brics-no-muro/

Este artigo encontra-se em resistir.info

de como a sucata salvará a europa de vonder lidl e o nosso papel no processo

Vonder Lidl sonha vencer a desindustrialização do seu território imposta pelos gringos explorando o negócio da sucata de maneira vertical, isto é, desde a tralha que chega à ucrânia e que as tropas russas destroem até aos utensílios domésticos que dela resultarão depois de derretida e posta nos moldes que borrell imagina enquanto faz a poda do seu marmeleiro belga.

Portugal poderá ser um dos lideres do projecto dada a sua experiência em negócios da sucata – ver o currículo AQUI e se a blackrock o consentir, está bom de ver. Este projecto é de biliões de dollars e prevê-se para ele largos meses de estudo, desenvolvimento e acções de lobbie sofisticadas porque concorre com outro que se liga ao aproveitamento das radiações do urânio empobrecido para funcionamento da próxima geração de micro-ondas que a raethon norte-americana vai desenvolver para o pentágono e disseminar pelo mundo em forma de obuses e projecteis.

Voltando à sucata: A. Costa está envolvido já no assunto e tem gomes craínho como seu braço direito e pires de lima como guarda-livros certificado. As montenegrices já andam à solta e dizem que em sucata somos fracos e basta olhar para a direita. Só produzimos a partir dela a chamada verguinha usada na construção civil e obras públicas como reforço do cimento armado e, algumas vezes, betão. O termo técnico para o produto é “perfil cilíndrico nervurado”, que, como se vê, se encaixa na perfeição na direita montenegral, tanto mais que designa algo que vai acabar revestido de cimento e com pouca imaginação.

Portugal, que já deu novos mundos ao mundo, agora vai assumir o papel de descobridor da verguinha que vai produzir e distribuir como já o fez com a canela e a pimenta. Um novo império ! Se a blackrock permitir ou ao menos estabelecer com craínho uma parceria estratégica e a vonder lidl a assumir como sua já que se trata de ajudar os nazis de kiev, os de bruxelas e os de washington…

Neste projecto da sucata, borrell tem de perder a mania que se vão produzir utensílios de jardim, pelo menos se ele ficar para os nossos capitais e as nossas siderurgias. Os nossos capitais vão recorrer aos chineses, já se vê, Costa e Medina já têm essa engatada e o transporte do material vai ocorrer numa rota da seda com veículos de alta velocidade alugados por pequim. Tudo pensado, embora montenegro não acredite em nada do que o governo diz pelo simples facto de que para sucata há que recorrer sempre ao ppd, ao chega e aos liberais. A boa sucata está, óbviamente, neles !

Por fim dizer que a parte da corrupção já está pensada e com planos definitivos dada, mais uma vez, a nossa experiência em negócios esquisitos envolvendo sucata.

Diga-se que a sucata vai salvar a europa e que o nosso país vai ser o artífice dessa salvação. Sucata é conosco ! Que o diga godinho.

oxisdaquestão, 10.06.2023

a economia ocidental vai falir e os sinais já são visíveis

Não é só a banca
Nos EUA começou uma crise sistémica

Giuseppe Masala [*]

“Eu estava em bancarrota, o governo estava em bancarrota, o mundo estava em bancarrota.
Mas quem diabos tinha o raio do dinheiro?”

Charles Bukowski

A morte anunciada do dólar.

Como prova de que a atual crise bancária nos EUA é de natureza sistémica basta assinalar que, logo após o “resgate/encerramento” do Silicon Valley Bank, do First Republic Bank e do Signature Bank (que em conjunto possuíam 650 mil milhões de dólares em ativos), mais outros bancos como PacWest Bancorp, Western Alliance Bank e Metropolitan Bank rumam pelo mesmo triste caminho da quebra/nacionalização/encerramento e, quando possível, venda “em fatias” ao melhor ofertante.

O PacWest, por exemplo, no princípio de Março tinha as suas ações em torno dos 28 dólares e em apenas dois meses afundaram para 3,17 dólares. Além disso, não se trata de um banco pequeno que só opera num condado e sim de um banco com dimensão mais que respeitável, com 44 mil milhões de dólares em ativos.

O mesmo se pode dizer do Western Alliance Bank, cujas ações passaram de US$76 no princípio de Março para US$18,20 ontem. Mais uma vez, trata-se de um banco com dimensão significativa pois possui 65 milhões de dólares em ativos. E finalmente, nesta contagem de mortos, comatosos e feridos, o Metropolitan Bank tão pouco sai bem parado pois as suas ações caíram de 56 dólares no princípio de Março para o preço atual de US$19,86. Neste caso, a dimensão do banco é menor que a dos dois primeiros, com 6 mil milhões de dólares de ativos. Mas o importante é perceber que se trata de um grupo cada vez maior de bancos que estão a quebrar.

Crise sistémica?

Em primeiro lugar, isto significa que estamos diante de um facto sistémico e que a narrativa dos banqueiros que assumem demasiados riscos com o dinheiro dos poupadores não se sustenta. Uma crise sistémica significa algo mais do que isso.

Soam grotescas – ou, se se prefere, adotam a forma um rito coletivo de exorcismo, cada vez mais aborrecido – as palavras das autoridades que falam num sistema são e resistente. Com efeito, resiliente é a palavra utilizada neste mantra misericordioso. Naturalmente, o que ainda falta é o Big Bang – como o da quebra do Lehman Brothers em 2008 – um desastre que obrigue a casta sacerdotal da tecnocracia e da política financeira a dizer a verdade. Melhor ainda, o Big Bank já aconteceu, mas não nos Estados Unidos e nem sequer na Eurolândia. Estamos a falar da quebra do Credit Suisse, apesar de ter a sua sede num dos Estados mais ricos do mundo e com um Estado que suficiente peso financeiro suficiente para intervir a sério. Até agora tivemos sorte, mas quanto pode durar?

É justo explicar brevemente o que entendo por “crise sistémica”. Refiro-me, precisamente, a uma crise que afeta os três componentes fundamentais de um sistema económico nacional: as famílias, as empresas e as administrações públicas. Um sistema em que as famílias são os atores que “poupam” enquanto as administrações públicas e as empresas investem e, consequentemente, endividam-se. Quando a poupança das famílias satisfaz plenamente as necessidades de financiamento das empresas e das administrações públicas, o sistema encontra-se em equilíbrio perfeito. Se a poupança interna for insuficiente, recorre então aos investidores estrangeiros e o sistema é devedor líquido frente ao resto do mundo. Se, pelo contrário, as empresas e as administrações públicas precisam de menos financiamento do que pouparam as famílias, será investido no estrangeiro e o sistema nacional será credor líquido frente ao resto do mundo.

Pois bem, a situação dos EUA é muito grave no sentido de que o sistema do país (famílias, empresas e administração pública) está endividado com o resto do mundo em mais de 16 milhões de milhões de dólares. É claro que existe uma suposta “atenuante” para esta crise: os EUA inundaram o mundo com dólares para satisfazer a procura e tornar fluído o comércio mundial, uma vez que esta divisa foi a moeda padrão para os intercâmbios e fizeram isto sempre importando “tudo de todo o mundo”. Contudo, também é certo que o sistema estado-unidense padece de graves distorções, muitas vezes fruto de decisões ideológicas insensatas, como a ausência de um bem-estar estatal digno desse nome, deixando a saúde, a educação e as pensões em mãos de empresas privadas. Isto, dentre outros fatores, tornou impossível a competitividade dentro dos EUA e o seu sistema produtivo deslocalizou-se pelos quatro pontos cardeais em busca de custos laborais acessíveis. Sublinho isto porque até na Itália ouve-se alguns lunáticos ideologizados que falam do “bem-estar corporativo” em vez do bem-estar estatal: o tecido produtivo italiano oprimido por tal carga duraria menos que um gato na auto-estrada.

O que o dólar tem a ver com a crise?

Entretanto, como se pode depreender do que escrevi, o xis da questão é o dólar: uma crise bancária assim só pode ser explicada por uma saída colossal de recursos financeiros dos Estados Unidos em direção a outros países. O que, se se pensa nisso, é exatamente o que ser quer dizer com a palavra “desdolarização”. O capital estrangeiro que sempre investiu nos EUA está a mover em benefício de outras divisas e outros sistemas financeiros.

E nesta situação a Reserva Federal dos EUA não pode fazer outra coisa senão subir as taxas de juro com a esperança de atrair novos capitais. E a Europa por sua vez, quando corre o risco de ser esvaziada, também não pode fazer outra coisa senão subir as taxas.

Esta situação é admitida, a contragosto, até mesmo por Yellen, a qual declarou que o papel do dólar agora estava em perigo devido às sanções. Yellen certamente tem razão: as sanções foram a maçã envenenada que fez explodir o fenómeno (uma crise está debaixo da mesa desde há tempos). [1]

É realmente difícil ver como se pode sair dela sem correr o risco de uma nova guerra em escala tão grande como a que pôs fim à Belle Époque e foi experimentada por todos, como a Primeira Guerra Mundial. Uma guerra que foi sobretudo um enfrentamento pela hegemonia entre a libra esterlina e o marco alemão. Mas ninguém nos conta isso.

10/Maio/2023

[1] Yellen diz que as sanções podem por em risco a hegemonia do dólar, 16/Abril/2023

Ver também:
Os Estados Unidos da paralisia

[*] Economista, italiano.

O original encontra-se em observatoriocrisis.com/2023/05/10/no-es-solo-la-banca-en-estados-unidos-ha-comenzado-una-crisis-sistemica/

Este artigo encontra-se em resistir.info

a borrasca bancária que se adivinha, mais uma, até ao colapso final

Notas acerca da crise financeira em curso

– A ameaça de colapso do sistema bancário ocidental

Jorge Figueiredo

Crise bancária.

As crises recorrentes de que padece o capitalismo, cada vez mais frequentes e mais violentas, indicam um esgotamento deste modo de produção.

Como bem descobriu Paul Sweezy, há uma tendência estagnacionista do capitalismo na sua fase monopolista:   ele já não consegue crescer como antes, na sua fase pujante. E hoje atingimos uma fase hiper-monopolista, pois apenas quatro firmas (BlackRock, Vanguard, Fidelity Investments, State Street) controlam a maior parte das corporações no mundo todo (ocidental).

A impossibilidade de aumentar a produção vendável – realizar o valor – de bens reais conduziu à atual financiarização e isto levou à acumulação de capital fictício em volumes espantosos. Como bem apontou Paul Craig Roberts, hoje os cinco maiores bancos dos EUA têm derivativos que montam ao dobro do PIB mundial. Em suma o sistema chegou à sua fase senil e, pode-se dizer, autofágica. O capitalismo deixou de ser um factor de progresso (que já foi no passado) e passou a ser factor de retrocesso. A tendência ao retrocesso deverá intensificar-se cada vez mais com concentrações e fusões.

A falência do SVB (16º maior banco dos EUA) e do Silvergate no dia 11 de Março é um indício do que mais está para vir. Ela revelou ondas de choque e expôs a situação periclitante da banca e entidades financeiras (os shadow banks) não só nos EUA como também na Europa ocidental. As cotações da banca mergulharam nas bolsas de valores dos EUA (a do First Republic Bank caiu 60%, a do PacWest Bancorp 45%, …) e do resto do mundo (a do Credit Suisse caiu 15%, a do UniCredit 9%, …). Nos EUA as bolsas chegaram a suspender as cotações de dezenas de bancos.

Importa pouco para uma análise examinar os casos de corrupção individual dos integrantes do sistema. O CEO do SVB, por exemplo, conseguiu vender US$3,6 milhões das suas ações pessoais no dia 27 de Fevereiro – quando ninguém ainda sabia da catástrofe que se avizinhava. Mas para o exame de tendências a detecção de casos de polícia certamente são irrelevantes.

A causas imediatas do afundamento do SVB já foram bem descritas por Roberts:   a alta das taxas de juros determinada pelo governador do Federal Reserve “apodreceu” títulos da dívida pública a longo prazo emitidos pelo governo estado-unidense que constavam no Ativo daquele banco. Note-se o contraste:  na crise de 2008 o que estava podre eram as suprimes, títulos de atividades privadas – mas agora o que apodreceu foram os títulos emitidos pelo próprio governo dos EUA (!).

Também tem interesse examinar as medidas de salvamento do SVB adotadas pelo governo americano. Nos EUA o seguro cobre o depositante até o montante de US$250 mil e verificou-se que 96% dos seus depositantes tinham depósitos superiores a essa quantia. Mas o pânico das autoridades foi tamanho que, sem obrigação legal, anunciaram de imediato a cobertura total dos depositantes do SVB. Disseram as autoridades americanas que tal despesa não seria suportada pelos contribuintes (mas falta saber se isso é verdade; como pode não sair do orçamento de Estado e como seria possível fazer o mesmo em futuras insolvências de bancos).

No imediato, há dois ativos que saem incólumes desta nova crise financeira:   o ouro e o bitcoin. Isto confirma as suas potencialidades e confirma também que poderão/deverão constituir uma base para a(s) futura(s) moeda(s) que virão substituir o dólar quando for possível concretizá-las no mundo multipolar que está a caminho – quando este estiver livre da potência hegemónica que transformou a sua moeda em arma de guerra. A experiência com o ouro é milenar e o bitcoin está a ser testado na prática em El Salvador.

Por outro lado, a deterioração das moedas fiduciárias (fiat money) – o dólar, o euro, etc – intensificou ainda mais a tendência para o seu definhamento progressivo nas transações internacionais entre países soberanos. É evidente que o congelamento dos US$300 mil milhões de reservas russas depositadas em bancos ocidentais também contribuiu poderosamente para aumentar a desconfiança do resto do mundo em relação ao dólar.

Outra consequência irónica desta crise bancária é o facto de os pacotes de sanções inéditas impostas pelo sr. Biden contra a Rússia – inclusive com a sua exclusão do SWIFT – preservaram os bancos russos da contaminação dos bancos ocidentais. O sistema financeiro russo, assim como o chinês e o iraniano, ficou imune à crise ocidental. Biden não é Deus mas parece que escreveu certo por linhas tortas.

Em suma, a crise vai continuar e tenderá a intensificar-se. E há sempre a possibilidade de metástases enquanto perdurar o atual sistema monetário. Se as lições da história valem alguma coisa, convirá ler ou reler a obra clássica de John Kenneth Galbraith The Great Crash 1929, assim como o livro de Bernard Gazier, El crac del 29 (ed. oikos-tau).

15/Março/2023

Do autor acerca de crises de caráter conjuntural:
Crises, os desenlaces possíveisO que significa uma recuperação económica em “K”

Este artigo encontra-se em resistir.info

de como um pib pode crescer antes de cair por ele abaixo

Ou seja: cresceu até cair. Melhor que encolher até se levantar ? O pib tem destas coisas, não é seguro e varia nos números. Será que se trata do pib real, descontada do seu valor a inflação ? Num título tão resumido todas as dúvidas aparecem e por isso lá está o Destaque, 2/3. Isto das economias em capas de jornais tem que se lhe diga !

Muda-se de jornal e as perspectivas que se ensombravam passam ao otimismo ( sem p ) do fecho de ano. Então foi o maior crescimento desde 1987, depois da maior baixa dos últimos anos de 2020/21 e 22. A matemática se bem usada é uma maravilha e nas % então é que é ! Mas, atenção, que as famílias vão continuar a sofrer e o mais certo é que não vão recuperar o poder de compra. Dizia montenegro, com a sua cara de anjinho a luzir, que os portugueses vão mal mas o país vai de maravilha !!! Isto com o moço de massamá, na altura o seu patrão, a cortar rendimentos à ceguinho seja eu…

Só por engano o que acontece com o pib tem alguma coisa a ver com a vida concreta das pessoas. É que o pib, o que ele pretende representar, vai ser o rendimento de alguém e por regra ele está mal distribuído, muito mal distribuído. E então pode acontecer que ao leitor, muito satisfeito com os 6,7% de crescimento do pib, lhe caia na cabeça um aumento dos juros do empréstimo para a habitação que lhe tira, num repente, o fôlego !!! E fique asfixiado.

Há pib’s onde entra tudo: negócio da droga, receitas da prostituição, a especulação bolsista, valor das hipotecas, empréstimos ao consumo e por aí fora.

Da wikipédia:

Limitações do PIB e críticas

O PIB, é uma medida de fluxo de produção – produção por unidade de tempo (ano). Por isso, ele não considera estoques de capital (economia), que em ultima instância são importantes componentes determinantes dos fluxos de produção, como por exemplo, capital social, capital humano, capital natural, nível de eficiência de instituições.[12][13][14]

O PIB per capita é frequentemente usado como um indicador, seguindo a ideia de que os cidadãos se beneficiariam de um aumento na produção agregada do seu país. Similarmente, o PIB per capita não é uma medida de renda pessoal. Entretanto, o PIB pode aumentar enquanto a maioria dos cidadãos de um país ficam mais pobres, ou proporcionalmente não tão ricos, pois o PIB não considera o nível de desigualdade de renda de uma sociedade.

  • Distribuição de riqueza – O PIB não leva em consideração diferenças na distribuição de renda entre pobres e ricos. Entretanto, diversos economistas ressaltam a importância da consideração sobre desigualdade sobre o desenvolvimento econômico e social de longo prazo.
  • Qualidade de bens e serviços – Caso dois bens tenham qualidades diferentes, mas sejam vendidos a um mesmo preço, o valor registrado pelo PIB será o mesmo. Isso leva a distorções da percepção de bem-estar, por exemplo, se uma cidade produzir bolos de ótima qualidade pelo mesmo preço de bolos ruins da cidade ao lado, o PIB calculado para as duas será o mesmo, porém, a qualidade de vida e de consumo será diferente entre elas.
  • Transações não comerciais – O PIB exclui atividades produtivas que não ocorrem dentro do mercado, tal como serviços voluntários não pagos ou produtos e serviços de livre acesso trocados pela internet.
  • Transações clandestinas – O PIB conta atividades que contribuem para a produção, mas que não passam pelo mercado oficialmente, como atividades de contrabando e venda de produtos ilegais. Porém a medição é feita por vias indiretas.
  • Externalidades – O PIB ignora a presença de externalidades (efeitos não contabilizados pelo mercado), como, por exemplo, danos ao meio ambiente. Assim, um país que cortar e vender todas suas árvores terá um aumento em seu PIB, mesmo que os efeitos sociais sejam negativos devido à poluição, perda de biodiversidade, área de lazer, etc..[14]
  • Crescimento de longo prazo – O PIB anual não é um indicador de longo prazo. Ele aponta para variações que podem vir de oscilações econômicas momentâneas, como ataques especulativos, bolhas de crescimento, descoberta de jazidas de recursos naturais. Nada garante que o crescimento será mantido ou distribuído pela sociedade.

Dá para entender ?

a realidade usa para os seus consumidores


11 estatísticas que expõem a realidade enfrentada pelos consumidores dos EUA nesta economia em rápida deterioração

Foto de Tyler DurdenPOR TYLER DURDEN – DOMINGO, 29 DE MAIO DE 2022 – 15H30

De autoria de Michael Snyder via TheMostImportantNews.com,

Os preços estão subindo, há escassez generalizada de certos itens, como fórmulas infantis em todo o país e, ao mesmo tempo, a atividade econômica dos EUA parece estar realmente desacelerando. Considerando tudo isso, faz todo o sentido por que o povo americano está se sentindo tão negativo em relação à economia agora. Na verdade, impressionantes  85%  de todos os americanos acreditam que haverá uma recessão no próximo ano. Hoje em dia, é virtualmente impossível fazer com que os americanos concordem esmagadoramente sobre qualquer coisa e, portanto, o fato de 85% de nós estarmos prevendo uma recessão é realmente importante. 

Quase todo mundo percebe que as condições econômicas vão piorar, mas para aqueles de vocês que ainda duvidam para onde estamos indo, aqui estão 11 estatísticas que mostram como os consumidores dos EUA estão se saindo nesta economia em rápida deterioração…

#1  De acordo com uma pesquisa Harvard CAPS/Harris que foi realizada recentemente,  56%  dos americanos dizem que sua situação financeira está piorando, e apenas  20%  dos americanos dizem que sua situação financeira está melhorando.

#2  Outra nova pesquisa acaba de descobrir que  66%  dos americanos “evitaram eventos sociais porque se sentiram constrangidos ou desconfortáveis” com sua situação financeira.

#3  A bolha imobiliária parece estar estourando. Neste ponto, as vendas de novas casas unifamiliares estão caindo  em um ritmo muito assustador …

As vendas de novas casas unifamiliares em abril caíram 16,6% em relação a março e 26,9% em relação ao ano anterior, para uma taxa anual ajustada sazonalmente de 591.000 casas, a menor desde o bloqueio de abril de 2020, de acordo com o Census Bureau hoje. As vendas de casas novas são registradas quando os contratos são assinados, não quando os negócios são fechados, e podem servir como um indicador precoce do mercado imobiliário geral.

#4  Depois de quebrar o recorde nacional de todos os tempos em março, o preço médio de um galão de gasolina nos Estados Unidos subiu  42 centavos  acima do recorde antigo e agora está em  US$ 4,59 .

#5  A idade média de um carro nas estradas dos EUA atingiu um recorde histórico de  12,2 anos . Muitos americanos continuam adiando a substituição de seus veículos atuais porque os novos veículos se tornaram tão inacessíveis.

#6  Milhões de famílias americanas estão lutando com o  rápido aumento dos preços dos alimentos …

O índice de alimentação fora de casa aumentou 7,2% em relação ao ano passado, informou o Departamento do Trabalho no início deste mês. Os preços dos alimentos subiram 9,4% em abril em relação ao mesmo período do ano passado – o maior salto desde abril de 1981, informou recentemente o Bureau of Labor Statistics. E os preços dos supermercados aumentaram 10,8% no ano encerrado em abril.

#7  Os futuros de gás natural dos EUA  acabaram de ultrapassar o limite de nove dólares  – o nível mais alto que vimos desde a crise financeira de 2008. Isso significa que custos de energia muito mais altos estão a caminho para os consumidores dos EUA.

#8  Várias pesquisas do Fed estão mostrando que a atividade manufatureira nos EUA  está realmente desacelerando …

A desaceleração da atividade manufatureira mostrada nos relatórios dos bancos do Federal Reserve de Nova York e Filadélfia foi confirmada por uma pesquisa do Richmond Fed indicando que a atividade fabril se contraiu na região do meio do Atlântico em maio.

O índice da Pesquisa de Atividade Industrial do Quinto Distrito caiu 23 pontos de uma leitura positiva de 14 em abril para menos nove, a leitura mais baixa desde maio de 2020, quando grande parte da economia ainda estava se recuperando do início da pandemia e dos bloqueios.

# 9  Zero Hedge  está relatando  notícias extremamente deprimentes sobre dados macro dos EUA: “Além de abril de 2020 – quando toda a economia foi fechada – a decepção serial de maio nos dados macro dos EUA é a pior desde o Lehman”

# 10  Graças à queda dos preços das ações, aproximadamente 20 trilhões de dólares em patrimônio líquido doméstico foram  “eliminados”  até agora este ano.

#11  Uma nova pesquisa da CBS News/YouGov descobriu que  74%  dos americanos acreditam que as coisas estão indo mal neste país e que  51%  dos americanos realmente acreditam que Joe Biden é “incompetente”.

Neste momento, as condições são muito semelhantes às que testemunhamos pouco antes da crise financeira de 2008.

Se tivéssemos resolvido nossos problemas de longo prazo naquela época, talvez estivéssemos em um lugar muito diferente no momento.

Mas, em vez disso, parece que estamos prontos para repetir a história de várias maneiras.

De fato, muitos especialistas acreditam que a crise que está nos encarando será ainda pior do que a que passamos há mais de uma década. Por exemplo, basta verificar o  que Peter Schiff está dizendo …

Este vai ser ainda maior porque a economia tem muito mais dívida agora do que tinha em 2008. E os americanos são menos capazes de pagá-la quando as taxas de juros sobem porque os saldos são muito maiores. Então, estamos em uma situação muito pior como resultado de todos os resgates e todo o estímulo que encobriu a última crise. Então, agora o que estamos lidando será muito pior porque chutamos a lata pela estrada em vez de resolver o problema quando tivemos a chance.”

Ele faz alguns pontos realmente grandes.

Toda vez que houve algum tipo de crise em nossa sociedade, nossos líderes responderam inundando o sistema com ainda mais dinheiro.

Em 2008, a dívida nacional dos EUA ultrapassou o limite de 10 trilhões de dólares.

Em 2022, a dívida nacional dos EUA ultrapassou o limite de 30 trilhões de dólares.

Nossos políticos vêm destruindo sistematicamente nosso futuro, e a maioria dos americanos não parece se importar.

Agora chegou o dia do acerto de contas, e vai ser imensamente doloroso.

Não há bala de prata que cure a inflação.

O Federal Reserve vai tentar domar a inflação aumentando as taxas de juros, mas isso apenas destruirá a bolha imobiliária e desacelerará drasticamente a economia.

E não há bala de prata que acabe com a escassez que estamos enfrentando atualmente.

Estamos agora experimentando algumas das consequências de décadas de má gestão, e muito mais dor está a caminho.

( tradução automática )